NÁUFRAGO






Às vezes, quando fecho os olhos, estou no mar.

Meio sobre meio sob água, nada mais em volta
Nada além d’água.
Aquele silencio distante, presente, umidificador
(como ungido se fosse)

Também desesperador o nada em lugar algum
No mar das águas tão iguais
Revoltosas, marolas, ondas, empuxo, repuxo,
Tudo homogeneamente diferente
Cada posição uma reação
Onde incerteza não dá pé
Maré que lhe abraça é mesma que te afoga.

Estou eu lá
Sem lar, sem chão, no meio do nada
Ainda sem afogar, com pernas
Frenética oscilantemente desesperadas
Mexem-se para não afundar.

Estou eu lá
No mar,
Sozinho
Aguardando navios
de bandeiras internacionais.
Mas o barco pequeno
De pescadores de gente
Hão de me resgatar.

São eles os heróis
A me buscar.

Dos quais não fugirei, mas não
Quero encontrar.