MESSIAS: NOSSO PROFESSOR...

CLÁUDIA ANDUJAR


Os últimos dias foram tumultuados, o Estado virou de cabeça pra baixo, e o artista desta pirueta foi o Messias, aquele que prometia trazer as boas novas. Trouxe mesmo: a revelação.

Nunca admirei intelectualmente nosso Presidente, mas tenho que dar o braço a torcer, afinal, foi para mim um dos maiores professores sobre a histórica transição entre o militarismo e a democracia ocorrida no Brasil, ensinando de forma prática. Para aqueles que ainda não entenderam, explicarei.

Após a demissão de Sérgio Moro e a coletiva do Excelentíssimo JB, todas as cartas foram postas à mesa e o ensinamento prático sobre o pensamento ditatorial de um regime militar em contraposição ao pensamento democrático de um regime de Estado de Direito tornou-se claro e cristalino.

Estupenda aula ministraram os dois envolvidos. De um lado Sérgio Moro esclareceu o Estado de Direito, do outro lado, Bolsonaro deu valioso ensinamento sobre o pensamento e ação de um militar propenso a estabelecer na força o regime militar.

Na aula sobre o Estado de Direito, ministrada pelo Sérgio Moro, aprendemos sobre competências e atribuições. Aprendemos que existem Poderes e órgãos independentes e harmônicos entre si.

Aprendemos que o poder de decisão de um servido público, comprometido com a coletividade, não pode ser discricionário, mas vinculado à lei, ou seja, suas decisões não podem ser pautadas em interesses pessoais ou critérios valorativos íntimos, mas, especialmente e sobretudo baseados na norma legal abstrata, cogente e geral.

Isto porque os interesses da coletividade estão acima dos interesses pessoais, de maneira que cada servidor público, seja a autoridade ou poder que detenha, deve respeitar limites e competências, não se intrometendo na função e poder do servidor contíguo, pois, apenas assim excessos e injustiças poderão ser contidos.

Resumindo, Sérgio Moro nos ensinou que cada macaco deve se manter no seu galho, para, dessa forma, manter a árvore no equilíbrio suficiente e necessário para a convivência de toda comunidade.

De outro lado veio nosso fenomenal professor Jair. Nos ensinou que o pensamento militar ditatorial é a razão de tudo.

O Chefe, patente hierarquicamente maior, imbuída de atributos máximos e ilimitados, tudo pode, a hora que quiser e precisar.

Toda competência e decisão deve estar centrada no líder supremo. Ele avalia e decide. Afinal de contas é ele quem manda.

Por ser o Chefe máximo do regime, as ações, investigações, decisões, estratégias, somente deverão partir do poder central, da sua própria pessoa ou aquele a quem delegar tal função.

Resumindo, Jair Messias Bolsonaro nos ensinou que o regime militar preza pela disciplina, obediência e submissão, apenas o Poder Central pode decidir as coisas da coletividade.