O PARADOXO

 

FORÇAS OPOSTAS
Fabiano C. Sandoval



O advento da internet sempre me pareceu muito promissor no sentido de trazer à sociedade liberdade e igualdade, na medida em que o conhecimento apurado, técnico, científico fosse disseminado pela rede, de forma democrática, gratuita, alcançando pessoas das mais variadas vicissitudes.

De fato, este aspecto da internet ocorre dada a quantidade de boa informação disponível.

Por outro lado, há muita informação ruim, para não dizer deturpada, prejudicial.

Foi então que entendi ser a informação passível de manipulação tanto para o bem quanto para o mal, na maior literalidade e aspereza do maniqueísmo, indicando com clareza o bom e o mau.

E, neste ponto, voltando a ideia inicial, compreendi que a internet também serve como canal para cercear a liberdade, estabelecer a desigualdade, produzir ignorantes e disseminar desconhecimento.

Diante desta dicotomia viajando em bytes e terabytes conclui que independente da informação e da plataforma em que se processa, temos sempre como origem e resultado o ser humano.

Independente do meio, da forma, da qualidade da informação haverá indiscutivelmente a vontade humana em escolher e querer acreditar naquilo que lhe convém.

Como dizia René Descartes, “O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm”.

Logo, o ser humano imbuído de bom senso e plena convicção do certo, escolhe acreditar no que quiser, nem que seja, para outros, uma aberração.

Com base nisso, atualmente a ciência foi colocada “em xeque”.

Milhares de anos de empirismo, estudo, compreensão, aprendizado, evolução, progresso, conhecimento foram simplesmente desprezados, inescrupulosamente posto em dúvida, como se fosse mais um bem de consumo descartável.

A imensa gama de informação existente na rede sobrecarregou o interesse humano no conhecimento, criando ilhas de pessoas desinformadas, unidas pelo sentimento de desvendarem a realidade através de teorias da conspiração ou crenças absolutas daquilo que desconhecem.

É triste perceber que uma parcela grande de brasileiros se revelou sectário dos inquisidores da Idade Média.

Uma coisa é certa, a internet como espaço democrático se mostra bastante ativo, embora tenha muito a se desenvolver, entretanto, não podemos relegar este atributo, pois pensamentos antagônicos convivem com mesma força.

Tenho esperança de que os imperativos categóricos propostos por Emanuel Kant venham trazer luz ao bom senso humano, de forma a assentar de cada lado as forças opostas, promovendo o equilíbrio da balança.