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MICHELANGELO |
O
Incriado e o Criado como faces do mesmo objeto.
Lados
opostos da mesma corda.
A
visão particular de um simples e divino mortal.
Um lugar onde convivia
em unicidade Criador e Criatura. Em verdade não havia distinção porque ambos eram
lados da mesma moeda, quando lado nem existia, não podia ser ainda
compreendido, porque objeto algum estava circunscrito.
Criador serenamente existente,
em imanente presença não ocupava lugar, nem tinha movimento. Era o
preenchimento do espaço vazio. Um invisível contorno do nada, abarcava coisa
alguma e nenhuma coisa lhe abarcava.
O Criador imutável e
indivisível não se comprimia, nem reverberava, pois ponto de referência não se observava;
não se expandia, nem oscilava, tal qual era a fusão, que nem fundição, nem nada
sobrava, porque por onde se olhava, era nada que se enxergava.
Por uma centelha de
impermanência o Criador esgueirou-se da condição do tudo inexistente projetando
no vazio do nada um lapso ínfimo de consciência, que numa impensável grandeza inferior
a um quintilionésimo de segundo veio ao espírito o pensamento: Haja luz; e
houve luz.
E Deus chamou à luz
Dia. E foi o dia primeiro.
E pensou Deus: Haja
uma expansão em meio à luz, e haja separação entre Dia e Luz.
E fez Deus a expansão,
e fez separação entre Dia que estava debaixo da expansão e Dia que estava sobre
a expansão; e assim foi o dia segundo.
E pensou Deus: Ajuntem-se
debaixo da expansão do Dia num lugar; e apareça a porção e o movimento; e assim
foi.
E pensou Deus à
porção Espaço; e ao movimento pensou Tempo; e viu Deus vibração por toda
expansão.
E fez Deus oscilações
longas, oscilações curtas, segundo sua espécie ondas seguiam rápidas, outras
seguiam vagarosamente.
E das vibrações que
seguiam compassadas em intervalos extremamente curtos e outras extremamente
longos, surgiu o módulo, direção e sentido; dos sentidos das propagações
surgiram espectros diferentes e infinitos e nos espaços onde elas tão
vagarosamente oscilavam, chamou inércia, e disso surgiu o vácuo.
E a radiação percorrendo
os vários movimentos, assim foi o dia terceiro.
E pensou Deus: Haja
polaridade nas ondas e no vácuo.
E das cristas das
ondas que subiam, denominou-se positivo; das cristas que desciam chamou
negativo. As polaridades que ali surgiram, de oscilações para cima e para baixo
que seguiam em único sentido, mas que pareciam sentidos contrários, foi o
quarto dia.
E pensou Deus: Do
caos se faça a lógica.
E de todos os eventos
que aconteciam, uns se juntaram, outros se separaram; se aglutinaram, se
repeliram; se fundiram, se isolaram; cooperavam se desuniam; se ajudavam,
desmereciam; dessa forma criou-se o ritmo. Assim, foi o quinto dia.
E pensou Deus: De
cada coisa que existe, tenha outra que também exista.
E de tudo que existia
no precedente passou existir também no consequente. Observava-se que tudo
nascia de algo que era nascido antes. E fez Deus a Causa e o Efeito. Assim o
sexto dia se foi.
E pensou Deus sobre
estes e aqueles que acabava de criar. Observou o que acabará de pensar, e
pensou sobre tudo o que pensava, nas diferentes formas que seu pensamento
tomara. E fez Deus o gênero. Assim foi o sétimo dia.
E viu Deus tudo
quanto tinha feito, e eis que era muito bom. E havendo Deus acabado no dia sétimo
a obra que fizera, descansou e abençoou toda sua obra que Deus criara e pensava.
Estas são as origens
dos céus e da terra, quando foram criados, no dia em que o senhor Deus continua
pensando.