JAIR

 


E agora, Jair?

A eleição acabou,

a auditoria falhou,

a esperança sumiu,

o povo esfriou,

e agora, Jair?

e agora, você?

você que já foi um nome,

que zomba dos outros,

você que faz trovas,

que odeia, protesta?

e agora, Jair?

 

Está sem amigos,

está sem discurso,

está sem coragem,

já não pode escarnecer,

já não pode se gabar,

motociata já não pode,

o moral esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a ditadura

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, Jair?

 

E agora, Jair?

Seu doce veneno,

seu instante de devaneio,

sua ignomínia e desfaçatez,

sua estultícia,

sua lavra de lata,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio — e agora?

 

Com a faixa na mão

quer se esconder atras da cortina,

não existe cortina;

quer correr pra caserna,

mas a caserna não aceitou;

quer ir para o Rio,

Rio não há mais.

Jair, e agora?

 

Se você pensasse,

se você entendesse,

se você estudasse

a Constituição e leis vigentes,

se você administrasse,

se você governasse,

se você merecesse…

Mas você não merece,

você é duro, Jair!

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem comunista,

sem petralha

para maltratar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, Jair!

Jair, para onde?